terça-feira, junho 13, 2006

Multinacionais e desenvolvimento

A alguns (muitos) anos atrás julgava-se que o segredo para o desenvolvimento da economia nacional podia ser resolvido com investimento do Estrangeiro.
Diga-se que nessa altura se pensava que o Estrangeiro era um país rico que vinha ajudar Portugal. Afinal verificou-se que não era nem um país, nem rico, nem queria ajudar, pelo menos não, Portugal.
Mas adiante, então o estrangeiro investiu em Portugal.
Vou apenas referir-me ás empresas do sector automóvel que conheço melhor.
Montaram-se fábricas e mais fábricas o desemprego baixou o consumo aumentou e tudo parecia ir de vento em popa. Estávamos na Europa.
Depois apareceu o Leste e a mão de obra aí ainda era mais baixa do que a nossa, então começou o êxodo das empresas para o Leste.
Uma diferença que encontro nas empresas que se implantaram em Portugal e Espanha é que cá as empresas pouco mais faziam do que produzir as peças ou os equipamentos que tinham sido definidos pela casa mãe (Ford, Opel, VW, Seat, Renault...).
Gostaria de separar as funções de uma empresa em 3 áreas: a produção propriamente dita do produto, a definição do processo produtivo e o desenvolvimento do produto.
Na maioria dos casos o processo produtivo já chegava definido, a sequência de operações, as máquinas, etc, apenas era necessário mão de obra.
Noutros casos, poucos, ficou a responsabilidade de definir o processo produtivo a cargo da filial em Portugal.
Agora, raro foram e ainda são, os casos em que o desenvolvimento, ou parte dele, também está localizado em Portugal. E é neste ponto que gostava de chamar a atenção para as diferenças entre Portugal e Espanha.
As multinacionais em Espanha conseguiram que a casa mãe abdicasse de parte do desenvolvimento e o passasse para a filial em Espanha.
A importância do desenvolvimento é muito grande porque se deslocalizar uma fabrica de produção apenas é relativamente fácil, deslocalizar o desenvolvimento implica perder know-how que está ligado ao conhecimento pessoal do produto dos técnicos envolvidos e é de difícil transmissão.
Portanto fechar a Renault de Setúbal foi fácil. Este exemplo serve apenas para representar todas as fabricas apenas de produção que foram e vão ser deslocalizadas nos próximos tempos.
Deslocalizar a Autoeuropa também me parece fácil.
Ainda este fenómeno de fixar fabricas não foi completamente compreendido e já parece-me que entramos noutro ciclo de oportunidades perdidas desta vez com as energias renováveis.
Consultem todos os site e artigos sobre energias renováveis e fica claro que não só ganha o país com a independência energética mas também e com o mesmo nível de importância, está o factor criador de emprego na manutenção, montagem, fabrico e desenvolvimento destes equipamentos, sejam turbinas eólicas, painéis solares, fotovoltaicos, células de hidrogénio, biogas, etc.
Mas no caso das energias renováveis demos um salto atrás, já nem fabricamos, limitamo-nos a comprar aos outros...
Ajudamos a desenvolver a industria e a economia dos outros países...
Só para que conste, aqui ao lado, a Espanha fabrica, instala e desenvolve os seus próprios equipamentos, têm cursos, mestrados, criam kow-how...
Deixo a quem lê a tarefa de procurar em Portugal o que há sobre este tema, associações não contam, apenas empresas que produzam ou desenvolvam ou estudem ou ...